Substituição sustentável de eritrina por seringueira em SAF de cacaueiro. In: Agrotrópica v. 28 p. 101-122, 2016.

Abstract

O excessivo sombreamento proporcionado por espécies de Erythrina ainda hoje observado nos plantios de cacau (Theobroma cacao), do sul da Bahia, está entre os principais fatores da baixa produtividade dos clones de cacaueiro, resistentes à vassoura-de-bruxa (Moniliophthora perniciosa), utilizados na renovação das lavouras formadas no sistema cacau-eritrina. A partir dessa percepção e visando modernizar o sistema de exploração agrícola desta importante região produtora de cacau é que se propõe substituir as eritrinas por seringueiras (Hevea brasiliensis). Esta espécie é considerada um componente arbóreo de usos múltiplos, valiosa para exploração em sistemas agroflorestais multifuncionais (SAFs), de alto valor econômico, adaptada às condições locais de cultivo, eficiente no sequestro de CO2 , além de proporcionar aos cacauais efetivo sombreamento em razão da arquitetura de copa e da facilidade de manejo. Trata-se de um novo sistema de plantio regional que visa dar sustentabilidade aos agronegócios cacau e borracha, por recuperar a produtividade de cacauais atacados pela vassoura-de-bruxa, simultaneamente ampliando a área cultivada com a seringueira. Isso é feito a um custo menor, sem a necessidade de desmatar florestas primárias, sem causar alterações nas características do solo do sistema anterior de uso da terra (cacau-eritrina), mantendo os mecanismos naturais de reciclagem de nutrientes. Com isso espera-se maior produtividade desses seringais, em razão do uso de clones produtivos, resistentes e com arquitetura de copa apropriada ao plantio em SAFs, além de serem plantados em solos mais férteis e com melhores práticas de manejo. Assim sendo, o processo de introdução da seringueira requer pequenos ajustes no arranjo, espaçamento, densidade populacional e orientação do sentido de plantio, buscando melhor distribuição espacial entre plantas. Assim estruturado, este sistema minimiza os efeitos de competição entre as culturas associadas por água, nutrientes, espaço e, principalmente, luz. Adicionalmente, favorece o controle natural de plantas invasoras, a ciclagem de nutrientes e o compartilhamento residual de fertilizantes exógenos. Entretanto, para minimizar os custos operacionais da implantação e obter sucesso na substituição devem-se priorizar as lavouras de cacaueiros produtivas, estabelecidas em solos profundos, sem impedimentos físicos, relevo plano ou levemente ondulado. Os resultados das pesquisas iniciais são promissores e mostram que as taxas de crescimento anual das seringueiras não sofreram influência do efeito de competição, mesmo quando implantadas em condições de forte restrição de luminosidade, iniciando a sangria com pouco mais de seis anos de idade. Evidencia ainda que o sistema proposto é viável sob o aspecto ambiental, econômico e social, porquanto fixa a mão de obra e gera empregos e renda, configurando-se como estratégico para o desenvolvimento rural sustentável das regiões produtoras de cacau do sul da Bahia.